Por Luciano Vacari
Um dos maiores depreciadores da renda dos produtores rurais é o custo com transporte. Mas esse não é um problema só do produtor rural, pelo contrário, o impacto disso chega até todos, embutido no preço do produto final que consumimos. Seja um quilo de arroz ou um saco de cimento, todos os produtos trazem agregado no valor o custo do transporte.
Para exemplificar, vou utilizar a cadeia produtiva do agronegócio, que atualmente é um dos principais setores da economia brasileira. Esta semana, dados divulgados pela FreteBras ao BroadCast Estadão apontaram que em 2020 o custo do frete para o agronegócio aumentou 71,9% em comparação com 2019. O índice está no anuário “O Transporte Rodoviário no Brasil” e acompanha a alta no preço das principais commodities produzidas no país. De acordo com a plataforma FreteBras, o preço médio do freto pago pelo agronegócio foi de R$ 0,14 por tonelada.
Em 2019, levantamento feito pelo Movimento Pró-Logística, mantido por um conjunto de entidades representantes de diferentes cadeias produtivas, apontou que o custo para levar uma tonelada de grão de Sorriso até a China é de US$ 110/t. Este valor foi calculado com o transporte sendo feito em dois modais, rodoviário até os portos e depois de navio.
Na Argentina, país vizinho, o custo para levar uma tonelada de grão de Córdoba até a China é de US$ 57/t. O valor é bem menor mesmo adotando os mesmos modais, rodoviário e depois navio, porque a distância do centro de produção até o porto é menor. Já nos Estados Unidos, que possui dimensões mais próximas do Brasil, o transporte é feito por hidrovia dentro do país e o custo para levar uma tonelada de grão para a China é US$ 56/t.
O valor elevado pago no Brasil para o transporte de carga vem, em grande parte, da dependência do modal rodoviário de transporte, considerado o mais caro e de maior impacto socioambiental. O uso de combustíveis fosseis, a falta de investimento na modernização da malha viária, o tempo de viagem e o custo de manutenção dos veículos aumentam não só o preço do frete, mas também o risco de acidentes.
No Brasil, 62% do transporte de carga é rodoviário, na Argentina a participação deste modal é de 44% e nos Estados Unidos 25% do transporte é feito sobre rodas. Investir na diversificação dos modais de transporte reduz o custo de produção e consequentemente o dos produtos também.
E não falo somente de hidrovia não. O transporte ferroviário mesmo, há quanto tempo ouvimos falar da Ferrogrãos, da Ferrovia Integração Centro-Oeste, ou que os trilhos vão chegar até Cuiabá? São promessas de décadas que não saem do papel.
Sabemos que os entraves burocráticos, tanto econômicos quanto ambientais, alongam a execução dos projetos. Mas com um trabalho transparente, com informações técnicas legítimas e os devidos investimentos, é possível diversificar nossas alternativas de transporte, reduzindo custo, aumentando a concorrência e melhorando a remuneração de todos os envolvidos.
Luciano Vacari
Gestor de agronegócio e diretor da NeoAgro Consultoria