Da cenoura à soja, nenhuma cultura está a salvo do chamado inimigo invisível: os nematoides. Esses pequenos vermes, invisíveis a olho nu, vivem no solo e nas raízes das plantas. Em quase todas as situações o produtor não consegue detectá-los de imediato, daí a expressão “praga invisível”. Em certos casos a planta nem sempre demonstra sintomas claros desses ataques, mas perde vigor e, consequentemente, capacidade produtiva.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Nematologia, mais de 90% das amostras coletadas em áreas agrícolas no Brasil apresentaram infestações por nematoides. Ao todo, foram analisadas 21.661 amostras, das quais 20.440 estavam contaminadas por esses vermes microscópicos. O levantamento estima que, se nenhuma medida for tomada, os prejuízos podem ultrapassar os R$ 870 bilhões em dez anos.
“Geralmente, quando o nematoide se manifesta na parte visível da planta, o ataque já está em um estágio muito avançado. Eles afetam diretamente o desenvolvimento das plantas, prejudicando a absorção de água e nutrientes, o que resulta em menor crescimento e produtividade, por afetarem o enchimento de grãos, por exemplo”, afirma Eduardo Ivan, Gerente de Produtos Biológicos da BRANDT Brasil – empresa de inovação tecnológica focada em fisiologia vegetal, tecnologia de aplicação e biossoluções.
A coleta de amostras de solo é o primeiro passo para identificar a presença de nematoides na lavoura. Amostras representativas da área cultivada são enviadas a laboratórios especializados, onde análises precisas revelam a espécie e a quantidade desses organismos. Essa informação é fundamental para o planejamento de estratégias de controle. “Sem isso, o produtor perde a chance de agir preventivamente”, explica Ivan, que ressalta que esse procedimento ainda é pouco realizado, mesmo em áreas tecnificadas.
Controle biológico como aliado
Após identificar a presença de nematoides, os produtores podem recorrer a diversas ferramentas de manejo, como o controle biológico, que tem ganhado destaque nos últimos anos. Dados do estudo FarmTrak, da Kynetec, mostram que os nematicidas biológicos são atualmente a principal escolha dos produtores brasileiros para o controle desses parasitas, representando 75% do mercado total, o que gerou investimento de R$ 1,2 bilhão na safra 2021/22. Já as soluções químicas movimentaram R$ 395 milhões no mesmo período. Em 2015, os químicos dominavam com 94% de participação, enquanto os biológicos tinham apenas 6%.
“O biológico é um organismo vivo que cresce junto com a planta. Ele protege as raízes e ainda oferece benefícios secundários, como a produção de substâncias que atuam como promotores de crescimento. O uso dessas soluções é benéfico, pois além disso, não apresentam toxicidade para o meio ambiente,” explica Ivan.
Práticas culturais e manejo integrado
O manejo adequado também é uma ferramenta importante para combater os nematoides. Por exemplo, a rotação de culturas pode ajudar a diminuir a população de nematoides em determinadas áreas. “Se o produtor planta milho por muito tempo, vai aumentar a incidência de nematoides específicos dessa cultura. Ao rotacionar com outras culturas, como soja ou trigo, ele naturalmente diminui a presença dos parasitas, porque eles não conseguem se adaptar a todas as plantas”, pontua o especialista.
A aplicação de adubos verdes, como crotalária, também reduz as infestações. “A planta é incorporada ao solo entre as safras, e além de ter a capacidade de fixar nitrogênio e melhorar o teor de matéria orgânica, também reduz a capacidade de reprodução dos nematoides”, orienta.
Ivan comenta ainda que “os resultados da pesquisa deixam claro que o manejo preventivo e o uso de tecnologias de controle são para evitar perdas. Na cultura da soja, por exemplo, uma safra perdida a cada dez representa prejuízos de R$ 27,7 bilhões. Outras colheitas, como café, cana-de-açúcar e milho, também sofrem graves consequências. As perdas estimadas para esses setores são de R$ 110,3 bilhões, R$ 143,8 bilhões e R$ 114 bilhões nos próximos dez anos. A ocorrência de nematoides não vai acabar, mas precisamos ter a conscientização deste cenário e dos prejuízos que podem acarretar na produção e, diante disso, trabalhar com o manejo integrado para garantir a maior proteção possível da lavoura”.
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