Campo Grande Empresas (MS) – Mesmo com boa procura e gerando economia, o mercado de energia solar tem sido impactado diretamente pela alta do dólar. O motivo é que os fornecedores negociam as vendas das placas solares com a moeda norte-americana e o valor é repassado aos compradores e, automaticamente, ao consumidor final.
A elevação dos custos para a instalação de um sistema já chega a 28% em 2021.
A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) aponta que a alta nos preços se deve à disparada do dólar, já que a maioria dos equipamentos é importada, e há uma escassez de componentes em virtude da pandemia, que afetou a produção no mundo todo.
Painéis, módulos solares e inversores são alguns dos materiais que sofreram elevação de 20% nos preços. Nos últimos dois anos, o dólar vem passando por um processo de altas sequenciais. Somente em 2021, a alta acumulada chega a 8,41%.
A empresa EcoTech Engenharia, em Campo Grande, é um exemplo de quem sentiu esse aumento. De acordo com o sócio e engenheiro da EcoTech, Rafael Ferreira, em virtude da alta do dólar, a empresa também recebeu um aumento de 20% nos materiais. Esse porcentual também foi confirmado pela associação Movimento Solar Livre (MSL).
“Impactou bastante. Não só nas placas solares, mas todos os insumos sofreram reajustes. O aumento do dólar afeta diretamente, quando chega no porto, a China repassa tudo isso para a gente”, ressalta Ferreira.
SISTEMAS
Como forma de exemplo, o empresário explica que um sistema que a empresa trabalha para 1.000 quilowatts-hora (kWh) era vendido por R$ 30 mil no primeiro semestre e agora já está custando R$ 38 mil. Ou seja, aumento de 26,66%. Já para 500 kWh, no mesmo período saía por R$ 17,5 mil e neste mês passou para R$ 22,5 mil (+28,57%).
“Se não fosse o dólar aumentando tanto, era para a gente estar com o sistema bem mais em conta”, acrescentou Rafael Ferreira.
Além disso, o engenheiro frisou também os problemas que a China vem enfrentando em relação à produção. Conforme informado por ele, está tendo bastante procura por instalações, porém, alguns materiais estão em falta.
“Não só o dólar impacta, mas também a questão da China. A China reduziu o volume de exportações e está acontecendo a falta de materiais. Está tendo bastante procura, porém, os equipamentos estão escassos”, completou dizendo que de tudo o que a China produz 20% ficam para atender o mercado interno.
Na empresa Energia Solar Sistemas e Soluções não tem sido diferente. A gerente do estabelecimento, Ingrid Santos, relata que todos os insumos ficaram mais caros.
“Essa alta do dólar afetou. Ficou tudo mais caro, então a gente está tendo dificuldade de comprar material por conta desses problemas. Como é um momento em que muitas pessoas estão procurando, aumentou muito a demanda também”, justificou.
“A China não tem carvão, na Europa não tem gás natural. No Brasil não chove”, disse, acrescentando outros problemas além da alta do dólar.
AUMENTO DA PROCURA
Em contrapartida, o presidente da Associação Movimento Solar Livre, Hewerton Martins, acredita que, mesmo com a alta do dólar, o aumento da conta de energia fez com que a procura por instalação de energia solar se mantivesse.
“Mesmo com a alta do dólar, continua muito viável a adoção da energia solar. O dólar deu um impacto, mas, na verdade, o impacto maior é a energia com a bandeira escassez”, ressaltou.
“O dólar impactou na questão dos materiais. Mas mesmo tendo aumentado o preço ainda vale muito a pena”, completou.
O presidente do Movimento ressaltou ainda sobre a taxação da energia solar, por meio da Projeto de Lei nº 5829. “Haverá uma taxação da energia solar votada daqui 12 meses, uma taxação média de 30%, então, quem fizer nos próximos 12 meses estará isento dessa taxação”, explicou.
GERAÇÃO
Conforme dados compilados com base nas informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Mato Grosso do Sul ocupa a 11ª posição em geração de energia solar, com 6.627 instalações. No Estado, Campo Grande lidera, com 1.402; em seguida está Dourados (871) e em 3° lugar está Terenos, com 282 instalações. Em 10ª posição está Ponta Porã, com 153.
No Brasil, 1ª posição está sendo ocupada por Minas Gerais, com 39.019; em 2° está São Paulo (26.567) e, em 3º, Rio Grande do Sul (25.350). No Brasil, há 210.286 instalações.
O Movimento Solar Livre explica que a posição no ranking nacional de instalação é a mesma que a dos empregos gerados.