Goiânia Empresas (GO) – O endividamento e o índice de inadimplência das famílias brasileiras alcançaram o maior patamar em agosto durante os últimos 10 anos. Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o número de famílias endividadas no País chegou a 67,5% nesse mês, pouco acima dos 67,4% registrados em julho. Já de famílias inadimplentes, ou seja, com dívidas ou contas em atraso, chegou a 26,7% em agosto, enquanto que aquelas que afirmaram não ter condições de pagar as contas em agosto chegou a 12,1%. Durante esse mesmo período no ano passado, o indicador era de 9,5%.
Mais do que ser um problema pessoal, as dívidas acabam afetando as empresas onde os endividados trabalham. De acordo com pesquisa da consultora de soluções de carreira, saúde e previdência Mercer, feita com 680 empresas brasileiras que abrangem, ao todo, mais de 780 mil profissionais, entre os principais motivos apontados para o alto índice de turnover – termo usado para se referir à rotatividade de pessoal – se destacam os problemas financeiros. “É muito comum o profissional endividado sair da empresa para levantar verba rescisória”, diz o economista e planejador financeiro pessoal da Real Cultura Financeira, João Gondim Neto.
Mas esse não é o único problema. Outro levantamento, feito entre a Universidade de Campinas (Unicamp), a Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) e o Instituto Axxus destaca que 96% dos profissionais de RH avaliaram que os funcionários menos produtivos apresentam normalmente algum tipo de problema financeiro. Empregados endividados podem perder até uma hora de trabalho por dia para resolver problemas pessoais, o que impacta diretamente na concentração e resultados dos colaboradores, de acordo com levantamento da consultoria Blue Numbers em 2016.
João também observa que, em alguns casos, o profissional atribui a situação de endividamento à sua percepção de ganhar pouco, o que aumenta a desmotivação e leva-o a partir para busca de novas oportunidades.
“Mas quase sempre esse não é o cerne do problema. Na maioria das vezes, o colaborador não sabe gerir o que recebem. Mesmo que saia de um emprego para ganhar um pouco mais, ele precisa saber administrar seus recursos para realizar seus objetivos, caso contrário, aumentará o seu consumo e voltará a ficar endividado”, aponta.
Esse foi o contexto que o levou a desenvolver um programa de educação financeira in company, voltado aos colaboradores das empresas, para desenvolver a habilidade de seus profissionais gerirem melhor seus recursos e se preparar para alcançar seus projetos pessoais. No curso, ele ensina estratégias para sair das dívidas, a desenvolver o hábito de planejar sua vida financeira com base em sonhos e objetivos, a fazer a gestão dos gastos eventuais e utilizar o cartão e crédito como o maior aliado. Faz parte do curso também mostrar que é possível enxugar gastos sem perder a qualidade de vida, além de ajudar o colaborador a ter hábitos financeiros de sucesso, como investir todos os meses, independentemente da quantia.
“A questão não é o quanto se ganha, mas como se gasta. Quando os profissionais entendem essa premissa, passam a gerir melhor o que ganham”, diz.
Para as empresas, o maior ganho é de ter uma equipe mais motivada e produtiva, inclusive com menor grau de insatisfação acerca de seu salário. “A tendência é diminuir o turnover e os consequentes gastos com custos de rescisão e treinamentos para novos colaboradores”, lista outro benefício para o empregador que investe na educação financeira dos colaboradores.
João lista três princípios que são ministrados no treinamento para quem não está conseguindo organizar as finanças. Confira:
- Liste todos os seus gastos com propósito: águas passadas não movem moinhos. Ficar olhando o que já foi não mudara nada na vida financeira de ninguém. O primeiro passo para fazer isso corretamente é listar os todos os itens do orçamento e anotar os gastos com cada item por 3 meses, para assim descobrir qual a dimensão dos gastos com cada item. O segundo passo é definir metas para esses gastos, e agora sim, anotar os gastos para se manter dentro das metas. Lembre-se anotar por anotar não fará qualquer diferença na sua vida.
- Não corte gastos que te traga prazer: quem faz isso, acaba se boicotando no processo de educação financeira, pois todos precisam ter prazer, diz João. A ideia, diz ele, é que o colaborador reduza um pouco de todos os itens do orçamento, o que é sempre possível, orienta o planejador financeiro pessoal. “No final, consegue-se uma queda substancial dos gastos, mas sem queda da qualidade de vida”, diz.
- Acabe com a mania de usar o décimo-terceiro para apagar incêndio, use para regar o jardim: Todo ano as famílias utilizam o 13º para quitar dívidas, colocar o orçamento em dia e nos próximos 12 meses “incendiar o orçamento novamente”. O correto, explica João, é iniciar um processo de enxugar os gastos cerca de três meses antes de receber essa renda. “Assim, quando o colaborador tiver essa renda, ele realmente passa a contar com uma receita para uso futuro, e não para pagar gastos do passado”, diz.