Por Maxmilliano Reis
Muito se fala em desenvolvimento profissional, como se fosse uma iniciativa unicamente individual, como se crescer na carreira dependesse somente de você, como se crescer fosse apenas uma questão de “esforçar-se” e “querer”.
Em um olhar profundo e sincero, é indispensável avaliar também a influência e importância do outro e das instituições na execução do seu plano de carreira.
1 – Leitura da cultura
De um modo geral a cultura abarca tudo o que há ao nosso redor, desde uma simples decisão sobre o que cozinhar até mesmo que tipo de funcionários contratar. A influência que a cultura exerce sobre os indivíduos é grande e pode ser imperceptível caso uma reflexão não seja feita.
Sabemos que a cultura influência o modo que pensamos a vida, tão logo a carreira. Estar atento as influências culturais que meio exerce sobre você e sobre a empresa que você trabalha é primordial para um planejamento de carreira sincero diante das possibilidades.
Vamos dar mais vida a este nosso exemplo, no artigo sobre as forças que lutam contra o seu desenvolvimento, discorri sobre as influências históricas que afetam o nosso desenvolvimento profissional. Aqui, a cultura e a história unem as mãos.
De maneira geral, arrisco a dizer que a cultura brasileira de massa não valoriza o ensino, a educação e aprendizagem. Infelizmente a cultura de massa ataca (exemplo: chamados de CDF/nerds na escolas) os indivíduos que desejam se destacar em sua intelectualidade. Existe uma verdadeira indução para que o sujeito da massa se torne apenas aquilo que os anciões foram, aquilo que é comum na comunidade. Existe uma falta de visão sobre as potencialidades que o sujeito pode desenvolver e uma rejeição ao novo, ao desconhecido.
Ser intelectual é de certa forma uma desconstrução daquilo que uma determinada comunidade entende que ela “é”. Isto trás medo do desconhecido, levando os indivíduos conservadores a induzir seus filhos a seguir o caminho esperado por aquela comunidade.
Se rebelar contra este sistema opressor pode ser amedrontador, entretanto, essencial para seu desenvolvimento. Não se deixe contaminar com o vírus da ignorância. Esta é a primeira batalha que você deve vencer para crescer.
Depois de se rebelar contra a ignorância é preciso analisar como cada fator da cultura influência seu pensamento e ação diante da vida, essa análise deve conter conteúdos vindos do país, estado, cidade e por que não familiar?
2 – Leitura do ambiente
Em uma experiência social, um dos maiores violinistas da atualidade tocou por horas em uma estação de metrô em Nova York, nos Estados Unidos. Adivinhe quanto de gorjeta ele conseguiu juntar? Pouco mais de alguns dólares. Ocorre que o mesmo violinista tocou no final de semana na opera de Nova York, onde os ingressos custavam centenas de dólares e se esgotaram em poucas horas.
A experiência nos leva a crer que devemos estar nos ambientes que valorizem nossas habilidades e conhecimentos. Deixando de vez ambientes que nos despreze. Essa é uma boa forma de começar a análise sobre as influências que o ambiente exerce no seu crescimento profissional.
Considerar como, e por quanto o ambiente em que você está inserido te valoriza, é primordial para você rentabilizar seus esforços e conhecimento. Avalie no seu ambiente como as pessoas são estimuladas a agir e como elas são recompensadas por agir de tal maneira. Entender as regras do jogo do ambiente que você habita, te possibilitará a jogar o jogo (bem) ou sair dele.
Em muitos casos, o problema não está em você, mas sim no ambiente que você habita. Por exemplo: se você domina excel e, está em uma empresa que mantém boa parte dos seus processos em papel, você tenta mostrar habilidade, mas as pessoas não conseguem ver e, portanto, não valorizam sua habilidade em excel. Logo, você deve entender que a regra do jogo ali é usar papel e não excel, uma vez entendido isto, você deve mudar, buscar um ambiente onde as habilidades no excel são valorizadas.
Entender as regras do jogo, sem romantismos, te possibilitará a migrar para um ambiente que te valorizará.
3 – Leitura do gestor
Você já deve ter percebido que existem gestores que não querem ver você crescer e, que, portanto, adotam um comportamento centralizador. Eles e elas pensam que ensinar o que sabem é um risco. Pensam que se ensinarem você estará tão apto quanto ele(a) a realizar sua função. Têm medo de você tomar o lugar deles. Em alguns casos este medo é justificado pela forma de gestão da alta liderança agir, mas em outros, é apenas a maneirar de ser do gestor.
Esperar que os gestores sejam bons profissionais e saibam fazer gestão de pessoas, não é algo que corresponde à realidade. A realidade nos diz que existem gestores de todos os tipos, de bons a ruins, de preparados a despreparados, de gentil a opressores, de cuidadosos a descuidados, enfim as opções são diversas. Os gestores são indivíduos e, cada um aplica o que têm em si. Olhar os gestores com a mesma diversidade das personalidades humanas te auxiliará a definir se o gestor joga contra ou a favor do seu desenvolvimento profissional.
Se você perceber que trabalha com um gestor que joga contra, é melhor você partir, em busca de alguém mais aberto ao desenvolvimento de pessoas. Insistir em continuar a trabalhar com alguém assim, não te levará a um lugar algum, ao contrário, você ficará para sempre no mesmo lugar. Você pode mais.
Cada etapa do seu plano de carreira exige um tipo adequado de gestor(a), portanto, você deve considerar qual é a gestora(o) necessária para cada degrau do seu plano de carreira. Desta maneira, você garante a construção de cada degrau na sua escada rumo ao sucesso.
4 – Considerações finais
Deixe de lado este pensamento limitante que te diz: “depende somente de você”, “é só se esforçar e você conseguirá” e, adote uma postura ampla e realista da vida, sabendo que o outro e as instituições influenciam (e muito) na condução do seu plano de carreira, podendo alavancar ou limitar seu desenvolvimento.
Modique os comportamentos culturais limitantes que a cultura te proporcionou. Entenda as regras do jogo do ambiente que está inserido, tome suas decisões e busque seu crescimento. O foco deve estar na sua carreira e não no seu emprego. Boa sorte!
Maxmiliano Reis
Administrador, Contador e Professor. Atua com Controller Financeiro na Lallemand Brasil (Agronegócio), contribuindo como Coordenador de FP&A, M&A e Controladoria para o Agrogalaxy (B3 listed) e Gerente de Auditoria pela Ernst & Young na França, São Paulo e Goiânia. Estudioso de gestão, carreira, sociedade, finanças e educação.