As margens pressionadas da Ambev (ABEV3) foram, provavelmente, o principal ponto negativo apontado por analistas do resultado da companhia no terceiro trimestre, divulgado na manhã desta quinta-feira (27). Apesar do crescimento do faturamento, com repasse de preços, a cervejaria viu sua lucratividade recuar por conta do câmbio e da alta das commodities, mas busca formas de remediar o problema.
Para melhorar sua performance operacional, os executivos da Ambev defenderam, em teleconferência com analistas, que estão buscando ganhar espaço com as garrafas retornáveis, continuar avançando com suas plataformas digitais e a aumentar a participação do seu portfólio premium.
“Em relação às margens futuras, acho que os drivers principais não mudaram. Continuaremos aperfeiçoando a rentabilidade. Precisamos ter o top line [receita] avançando, o que vem acontecendo nos últimos quatro anos, e precisamos manter esse crescimento balanceando volumes e margens”, disse Lucas Lira, diretor financeiro (CFO) da Ambev.
O uso de garrafas retornáveis tende a diminuir os gastos da empresa com embalagens. Adquirir, ou produzir, latas de alumínio é algo mais caro do que a reutilização das embalagens de vidro.
Neste ponto, a Ambev afirma que vem tentando, por exemplo, utilizar suas plataformas digitais BEES (business to bussines) e Zé Delivery (business to consumer) para incentivar o uso do vidro.
Fora isso, a companhia voltou a afirmar que o BEES e o Zé Delivery continuam sendo muito importantes nas suas projeções de ganhos operacionais, com os “dados gerados dentro da plataforma ajudando a Ambev entender melhor seus parceiros e clientes”.
No caso dos segmentos premium e high end, o esforço é porque os produtos que compõe esses portfólios tendem a oferecer margens melhores.
Do lado dos custos, os executivos afirmaram que o último ano foi desafiador, com um “combo de ondas contrárias” para as margens, mas que, nesse ponto, há certos avanços.
“Em relação a custos, o que eu disse em julho continua valendo. Após três ou quatro anos com ventos contrários, com desvalorização cambial, alta das commodities, no último enfrentamos vários deles juntos”, explicou Lira. “Agora, vemos que há maior visibilidade. Temos o real, por exemplo, como algo favorável, mas não podemos falar o mesmo do peso argentino ou das commodities. Precisamos agora concluir os hedges para o ano, mas sujeitos a tudo que não pode ser hedgeado”.
Copa do Mundo deve ser impulsionadora para planos da Ambev
A Copa do Mundo, para os executivos da companhia, também deve ser um fator importante para além do aumento do faturamento. O plano da Ambev é utilizar o evento para impulsionar todos os fatores que a companhia considera importante.
“A demanda será alta e nunca tivemos uma Copa do Mundo no fim do ano. Estamos preparados. Nossa meta, para além das vendas, é estabelecer um vínculo maior com os consumidores. Nosso plano comercial é muito bom e acho que a equação tem resiliência”, defendeu Jean Jereissati, diretor executivo (CEO) da Ambev.
De qualquer forma, os executivos enxergam que o evento deve impulsionar os ganhos da Ambev por meio das vendas maiores, com a projeção de que serão vendidos cinco milhões de hectolitros a mais na Copa de 2022 do que na de 2018. Fora isso, o ganho de escala deve ajudar a cervejaria a diluir, no último trimestre, boa parte dos seus custos fixos.
“O mix, no geral, tende a ter resultado positivo. E quando falamos de despesas com vendas para o evento, é importante dizer que já começamos o trabalho e já estamos carregando parte desses gastos no terceiro trimestre. A preparação já começou. Uma parte da Copa, com gastos com mídias e produção, por exemplo, já foi carregada”, contextualizou o CEO. “Além disso, os gastos não irão disparar. No quarto trimestre, o que esperamos é aumentar investimento nos países como Brasil e Argentina e reduzir um pouco o fluxo para países que não se interessam tanto por futebol”, concluiu.