Por André Ladeira
O mercado turístico brasileiro, duramente impactado pela pandemia de COVID-19, atravessou uma transformação significativa nos últimos anos. Um dos aspectos mais marcantes dessa mudança foi a migração do turismo aéreo para o terrestre. Essa tendência se consolidou com as restrições nas viagens aéreas, o receio de contaminação em espaços fechados, como aviões, e o aumento dos preços das passagens. Diante disso, muitos brasileiros passaram a optar por destinos mais próximos, acessíveis por carro.
Antes da pandemia, o turismo aéreo dominava o mercado, especialmente em regiões com atrativos turísticos de renome nacional e internacional. Entretanto, com a necessidade de distanciamento social e as incertezas quanto à segurança nos aeroportos e aviões, muitos viajantes redescobriram a beleza das viagens terrestres. Esse movimento não apenas alavancou o turismo regional, mas também proporcionou um novo olhar sobre destinos que, embora próximos, eram menos explorados.
As viagens de carro, em particular, ganharam destaque por oferecerem maior controle sobre o trajeto, permitindo paradas seguras e a possibilidade de evitar aglomerações. Além disso, o conforto e a flexibilidade de viajar em um veículo próprio se tornaram atrativos importantes para famílias e grupos de amigos que buscavam segurança e tranquilidade em suas escapadas.
Além disso, o aumento significativo nos preços das passagens aéreas após a pandemia foi um dos fatores decisivos para essa migração. A seguir, um comparativo entre os preços médios das passagens aéreas no Brasil antes e após a pandemia:
Antes da Pandemia (2019):
- Passagem Doméstica: O preço médio de uma passagem aérea doméstica no Brasil girava em torno de R$ 400 a R$ 600 para voos de curta e média distância. Promoções e tarifas promocionais permitiam que alguns trechos fossem vendidos por até R$ 200 a R$ 300, especialmente em baixa temporada.
- Passagem Internacional: Para voos internacionais, os preços variavam bastante, mas era comum encontrar passagens para destinos populares na América do Sul por cerca de R$ 1.500 a R$ 2.500, enquanto passagens para a América do Norte e Europa variavam de R$ 2.500 a R$ 4.000.
Após a Pandemia (2023-2024):
- Passagem Doméstica: Em 2023 e 2024, os preços médios das passagens aéreas domésticas aumentaram significativamente, com valores que variam de R$ 700 a R$ 1.200 para voos de curta e média distância. Trechos que anteriormente custavam R$ 200 a R$ 300 agora são frequentemente vendidos por R$ 500 a R$ 700, mesmo em períodos de menor demanda.
- Passagem Internacional: Os preços para voos internacionais também sofreram aumentos expressivos. Passagens para destinos na América do Sul podem custar entre R$ 2.500 a R$ 4.000, enquanto para a América do Norte e Europa, os valores podem facilmente ultrapassar R$ 5.000 a R$ 7.000.
Consequentemente, o impacto dessa transformação no mercado turístico regional é notável. Municípios que antes não faziam parte do mapa turístico nacional passaram a receber um número crescente de visitantes, impulsionando a economia local e fomentando o desenvolvimento de infraestrutura turística. Pequenas pousadas, restaurantes típicos e atrações culturais regionais experimentaram um crescimento na demanda, o que incentivou investimentos em melhorias e a criação de novos serviços para atender a esse público crescente.
Além disso, essa tendência reforçou a importância do turismo sustentável. Com a maior proximidade e o contato mais direto com a natureza e as comunidades locais, muitos turistas passaram a valorizar práticas de turismo responsável, que respeitam o meio ambiente e promovem o desenvolvimento socioeconômico das regiões visitadas. O turismo de natureza, em especial, viu um aumento expressivo, com os viajantes buscando destinos como parques naturais, cachoeiras, trilhas e áreas de preservação ambiental.
A migração do turismo aéreo para o terrestre não apenas ampliou o horizonte dos turistas brasileiros, mas também redefiniu a maneira como as viagens são planejadas e executadas. Essa mudança trouxe à tona o valor das experiências locais e da redescoberta das riquezas naturais e culturais do Brasil, ao mesmo tempo em que apresentou novos desafios e oportunidades para o setor turístico.
Em resumo, o mercado turístico regional se reinventou e se fortaleceu durante e após a pandemia. A tendência das viagens terrestres demonstra que o turismo de proximidade veio para ficar. Essa nova realidade não só diversificou as opções de destinos para os brasileiros, mas também democratizou o turismo, tornando-o mais acessível e sustentável, e consolidando o Brasil como um país de múltiplas possibilidades para os amantes de viagens.
André Ladeira
Empresário e sócio da AM Investimentos, que administra um pool de empresas no Brasil e nos Estados Unidos
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